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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

POR QUE O PERSONAGEM CHICO BENTO É BEM - VINDO EM NOSSA ESCOLA?

Agora acredito verdadeiramente que o mundo dá voltas. E como dá voltas! Para falar a verdade, o meu mundo anda dando umas voltas a meu favor...
Lembro-me muito bem da época em que vivia no interior. Acordar cedo, tomar leite quentinho tirado na hora, comida caseira do fogão a lenha, almoçar às 8h30min, enfim, tantas coisas agradáveis e sadias que ficaram na memória. Eu já era feliz e não sabia!
Eu estudava em uma escola unidocente bem na frente de um lago onde se avistavam capivaras, quero-queros, patinhos d’água e tantos outros bichos que de vez em quanto enfeitavam a paisagem com sua ágil presença. A maioria dos meus colegas era de origem pomerana e, para minha surpresa, quando não falavam com um forte sotaque, falavam inteiramente pomerano mesmo. Eu ficava com uma vergonha danada. Primeiro por não entendê-los claramente e depois por ser de origem italiana e não dispor de uma mísera palavra, a mais simples que fosse para exibi-la como um troféu italiano. Como eu adorava aquela situação comunicativa: meus colegas me pedindo em pomerano para trocar meus pequenos pedaços de pão com manteiga por pedaços a metro do famoso brot alemão com uma generosa porção de banha com açúcar por cima. E eu, na minha digníssima ingenuidade, pensando que seria legal responder que faria a troca utilizando as mais belas palavras da descendente latina. Por incrível que pareça, foi nesse contexto que eu acredito que eu fui me apropriando da leitura e da escrita na Escola Unidocente Pontal.
Mas o melhor ainda estava por vir. Toda essa interação escola/comunidade se tornava mais evidente quando eu ia a Vitória na casa de meus primos. Eles achavam uma “gracinha” o meu jeito “cantado” de falar. Achavam mais interessante ainda o meu vasto “repertório” lingüístico do tipo: “espia”, “piquei fora”, “bolinha carambola”, etc, que, segundo eles, soava fino como corda de viola no sertão (Não com essas palavras, é claro!). Quando eles iam analisar a minha forma musical e engraçadinha de falar, me diziam com o discurso dos mais altos inquisitores que era porque eu morava na roça e quem mora na roça não fala direitinho como eles que moravam na corte da Ilha.
Bem, eu achava mais estranho ainda o fato do menininho cantor do interior estudar na escola o nome de todos os municípios do estado e, por isso, não estranhar qualquer um deles. Mas os intelectuais do Príncipe estranharem quando eu dizia que morava em Itaguaçu, que fica próximo a Itarana, Santa Maria de Jeribá... Eles nunca sabiam onde ficava. Alguns arriscavam perguntar se era de Minas Gerais.
Are baba! Se fosse indiano me atirava no Ghanges. Mas agora, com o Pró-Letramento, tenho convicção de que tudo isso não foi em vão. Agora sei que minha forma sonora e divertida de me expressar tem explicação do ponto de vista linguístico. Estou ciente que represento o garoto do campo que tem na família uma estrutura fortalecida e valorizada, que mantém como cultura e meio de sobrevivência a horta, as aves, os animais e os cereais. Preserva valores como o amor, a honestidade, a coragem e a simplicidade. E as gírias que eles tanto me bombardeavam os ouvidos: “aê mano”, “caraca”, “na maior”. Elas apenas existem hoje porque foram criadas aleatoriamente como forma preconceituosa de atacar nossa paciência. É por isso, Maurício, que o nosso Chico Bento será sempre bem-vindo na nossa escola, pois ele contribuirá decisivamente para unificar nossos laços de respeito aos aspectos linguísticos adotados pelos falantes da nossa Língua Portuguesa - “ultima flor do Lácio, inculta e bela” – que é declamada solenemente nos corredores e salas de aula de nossa escola.
Fernando Eugênio Tozzo
REFERÊNCIAS

AG, Revista. Editorial. A Gazeta. Domingo, 21 de junho de 2009.
CÓRIO, Maria de Lourdes Del Fáveri. O Personagem “Chico Bento”, Suas Ações E Seu Contexto: Um Elo Entre a Tradição e a Modernidade. São Paulo: UNIMAR, 2006. (Tese de Mestrado)

Pró-Letramento: Programa de Formação de Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental: alfabetização e linguagem. – Secretaria de Educação Básica – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de educação Básica, 2008.

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